terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

“O ATENDIMENTO EDUCACIONAL AO ALUNO COM SURDEZ”: UM RELATO DE EXPERIÊNCIAS

CURSO DE EXTENSÃO “O ATENDIMENTO EDUCACIONAL AO ALUNO COM SURDEZ”: UM RELATO DE EXPERIÊNCIAS
Rodrigo Guedes de Araújo - Monitor de Extensão
UNEB CAMPUS XVII
Cristina Araújo Ramos Reis – Professora e Coordenadora
UNEB CAMPUS XVII

“As pessoas com deficiência têm o direito de viver com sua família e de participar das atividades sociais. Elas não serão submetidas, mesmo em suas residências, a tratamentos diferentes (discriminatórios) que não seja o necessário para melhorar o seu bem - estar”.
Declaração dos Direitos das Pessoas com Deficiências, 1975.

Resumo

As pessoas com surdez têm conquistado direitos fundamentais que promovem a sua inclusão social como o reconhecimento da Língua Brasileira de Sinais – Libras, em abril de 2002, e sua recente regulamentação, pelo decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, que também garante a obrigatoriedade do ensino de Libras na educação básica e no ensino superior - cursos de licenciatura e de Fonoaudiologia. O trabalho pedagógico com os alunos com surdez nas escolas comuns, deve ser desenvolvido em um ambiente bilíngüe e, como os graduandos de licenciatura da UNEB estão concluindo seus cursos com uma visão pouco aprofundada sobre a educação especial na perspectiva inclusiva e sem nenhuma noção de Libras, torna-se de suma importância proporcionar a este público, tais conhecimentos de modo que os possibilitem promover um atendimento educacional condizente com as necessidades dos alunos com surdez. Assim, este trabalho teve com objetivo fazer um breve relato de experiência sobre a monitoria realizada no Curso de Extensão “O Atendimento Educacional Comum e Especializado ao Aluno com Surdez”, realizado pelo Campus XVII, destacando o seu importante papel na Formação acadêmica do seu monitor. O curso realizado no Campus XVII da UNEB, Bom Jesus da Lapa – Bahia, desde a data de 21/07/2009, toda as terças-feiras, das 08:00h ás 12:00h, contribuiu, para a minha compreensão e da comunidade participante sobre o atendimento educacional da pessoa com surdez, e sobre as especificidades da Libras.

Palavras-chaves: monitoria, experiência docente, educação especial.







1. Introdução

Historicamente a surdez tem sido considerada como uma enfermidade que deve ser curada. Esta forma inapropriada de se considerar a pessoa surda, levou ao desenvolvimento de métodos educativos que não levam em conta as variáveis decorrentes da surdez.
Segundo Fernandes (1990), o significado social da surdez está ligado à ausência da linguagem comum à maioria, mas não se pode negar as características próprias da pessoa surda sob o risco de negá-lo recursos de inclusão educacional e social.
Na tentativa de suprir estas deficiências, vários métodos de trabalho com alunos com surdez têm sido propostos no decorrer do histórico da sua educação. Baseado em concepções sociológicas, filosóficas e políticas, surgiu no final da década de 70 a Proposta Bilíngüe de Educação do Surdo, a qual não privilegia uma língua, mas quer dar direito e condições ao indivíduo surdo de poder utilizar duas línguas; portanto, não se trata de negação, mas de respeito; o indivíduo escolherá a língua que irá utilizar em cada situação lingüística em que se encontrar.
Esta proposta leva em consideração as características dos próprios surdos, incluindo a opinião dos surdos adultos com relação ao processo educacional da criança surda. Falar em bilingüismo no campo da educação dos surdos é fazer referência a algo muito concreto, e algo sem controvérsias à luz dos conhecimentos atuais da lingüística: a existência de duas línguas ao redor dos surdos. Assim, o bilingüismo reconhece que o surdo vive numa situação bilíngüe (SANCHEZ, 1991).
Respaldados pelos novos paradigmas inclusivos, as pessoas com surdez têm conquistado atualmente direitos fundamentais que promovem a sua inclusão social. O reconhecimento da Língua Brasileira de Sinais – Libras, em abril de 2002, e sua recente regulamentação, conforme o decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, legitimam a atuação e a formação profissional de tradutores e intérpretes de Libras e Língua Portuguesa. Garante ainda a obrigatoriedade do ensino de Libras na educação básica e no ensino superior - cursos de licenciatura e de Fonoaudiologia e regulamenta a formação de professores da Libras, o que abre um amplo espaço, nunca antes alcançado, para a discussão sobre a educação das pessoas com surdez, suas formas de ocorrência e socialização.
Segundo Damázio (2007), no trabalho pedagógico com os alunos com surdez nas escolas comuns, em um ambiente bilíngüe, é indicado um período adicional de horas diárias de estudo para a execução do AEE (Atendimento Educacional Especializado). A autora afirma que neste atendimento destacam-se três momentos didático-pedagógicos:
• AEE em Libras, em que todos os conhecimentos dos conteúdos curriculares, são explicados nessa língua por um professor, sendo o mesmo preferencialmente surdo.
• AEE de Libras, no qual os alunos com surdez terão aulas de Libras, favorecendo o conhecimento e a aquisição, principalmente de termos científicos. Este trabalhado é realizado pelo professor e/ou instrutor de Libras (preferencialmente surdo);
• AEE para o ensino da Língua Portuguesa, no qual são trabalhadas as especificidades dessa língua para pessoas com surdez. Este trabalho é realizado todos os dias para os alunos com surdez, à parte das aulas da turma comum, por uma professora de Língua Portuguesa, graduada nesta área, referencialmente..
Damázio (2007), ainda destaca que o planejamento AEE deve ser elaborado e desenvolvido conjuntamente pelos professores que ministram aulas em Libras, professor de classe comum e professor de Língua Portuguesa para pessoas com surdez. Os professores envolvidos no planejamento também selecionam e elaboram os recursos didáticos para o AEE em Libras e em Língua Portuguesa, respeitando as diferenças entre os alunos com surdez e os momentos didático-pedagógicos em que serão utilizados. Desta forma, percebe-se a importância da professora da classe comum ter um mínimo de conhecimento sobre as especificidades da pessoa surda e de sua língua.
Embora a inclusão seja o paradigma mais atual na área da educação das pessoas com deficiência e esta discussão já estar em pauta a mais de 15 anos, muitos profissionais da educação ainda apresentam uma visão distorcida sobre as pessoas com deficiência, especialmente sobre as pessoas com surdez. O principal motivo desta distorção é a falta de preparo e de conhecimento que acaba por promover a segregação das pessoas com deficiência principalmente do âmbito escolar.

2. Objetivos

O objetivo geral do curso foi proporcionar aos graduandos dos cursos de licenciatura do Campus XVII da UNEB, conhecimentos que os possibilitem promover um atendimento educacional condizente com as necessidades dos alunos com surdez.
O curso teve ainda como objetivos específicos: Conhecer as especificidades da pessoa com surdez; Adquirir noções básicas da LIBRAS, que possibilitem um diálogo mínimo com a pessoa com surdez; Conhecer os critérios para profissionais que devem atuar no atendimento educacional comum e especializado da pessoa com surdez; Identificar as condições mínimas para o atendimento educacional ao aluno com surdez no ensino comum; Identificar as atividades a serem desenvolvidas no atendimento educacional especializado – AEE ao aluno com surdez

3. Metodologias

Inicialmente, o público alvo do curso era apenas os estudantes que se encontravam no final dos seus cursos licenciatura da UNEB Campus XVII. Contudo, com a divulgação, outros grupos demonstraram interesse em participar. Assim, as vagas foram distribuídas também para os demais membros da comunidade acadêmica (professores e funcionários), a Diretoria Regional de Educação (DIREC), a Pastoral da Criança, a APAE, o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) e ex-alunos, totalizando 50 participantes.
O curso foi realizado no campus XVII da UNEB, Bom Jesus da Lapa - Bahia, em 13 encontros semanais de 4 horas, totalizando uma carga horária total de 50 horas, das quais 20 horas foram destinadas às aulas teóricas e 30 às aulas práticas (oficinas de Libras).
As aulas teóricas foram ministradas pela professora da disciplina Educação Especial da UNEB/Campus XVII, Cristina de Araujo Ramos Reis (Apêndice 1). Para a realização das oficinas de Libras, procurou-se ao máximo atender ao decreto Lei de Libras 5626/2005, que indica que o ensino de LIBRAS deve ser realizado preferencialmente por surdos.
Como em Bom Jesus da Lapa e região ainda se dispõe de surdos formados para esta finalidade, buscou-se uma situação intermediária: contou-se com a participação de Kamyllo Colto Coité (Apêndice 1), que, como pessoa com surdez fluente em Libras, atuou na função de monitor das oficinas dessa língua. Este participante veio semanalmente de Barreiras recebendo um pró-labore correspondente a função de 30 horas, pago pela Pró-reitoria de extensão da UNEB – Proex. Em função dessa pessoa surda ainda não ter certificação para desempenhar a função de Instrutor e/ou professor de Libras, foi necessário a participação da professora Sandra Samara Pires Farias (Apêndice 1), a qual é ouvinte e atuou como professora das oficinas de LIBRAS e como intérprete do monitor surdo. Essa profissional também se deslocou semanalmente de Barreiras para Bom Jesus da Lapa e recebeu um pró-labore referente também às 30 horas.
O curso também contou com o apoio de um monitor de extensão Rodrigo Guedes de Araújo (Apêndice 1), que atuou ajudando tantos os profissionais que ministraram o curso como os cursistas, no que diz respeito as a realização de suas atividades.
Durante os encontros, também houve a participação de especialistas convidados, para tratar de temas específicos, como a Fonoaudióloga Ana Claudia M. Matos, que tratou sobre a visão da Fonoaudiologia em relação a deficiência auditiva

4. Relatos de Experiência

Escrever sobre a importância da monitoria para a minha formação acadêmica pressupõe entender primeiramente o que é de fato uma monitoria. É de comum acordo a definição trazida por vários autores a acerca do conceito de monitoria. Neste sentido, entende-se por monitoria a modalidade de ensino aprendizagem, dentro das necessidades de formação acadêmica, destinada aos estudantes regularmente matriculados. Este que tem com objetivo de despertar o interesse pela docência, bem como uma efetiva participação/organização durante o curso.
Para Candau (1986) a monitoria, como procedimento pedagógico, tem demonstrado sua utilidade, á medida que atende ás dimensões “política, técnica e humana da prática pedagógica” (p. 12).
Por essa ótica, e como graduando do curso de Pedagogia da Terra, pude perceber a importância do aprimoramento através do curso de extensão “O Atendimento Educacional Comum e Especializado ao Aluno com Surdez, desenvolvido pelo Campus XVII de Bom Jesus da Lapa. Isso por que este curso tem contribuído significativamente para uma melhor compreensão da relação teoria/prática, em relação a pessoa surda. Além disso, tem contribuído para a superação de algumas da minhas dificuldades, como: de comunicação em grupos, de organização, de planejamento e de estimulo à pesquisa.
O referido curso trata de um assunto extremamente importância para a Educação brasileira nos dias atuais. Histórica e educacionalmente, as pessoas com deficiências, sejam elas física, mental, ou de qualquer deficiência não citada, foram privadas de seus direitos, enquanto cidadãos, como por exemplo: à saúde, ao lazer, à moradia e de forma mais acentuada à educação. Esses direitos de forma alguma poderiam faltar a essas pessoas, pois são direitos essenciais para a efetivação de sua cidadania.
Dessa forma, o curso tem contribuído, para a minha compreensão e da comunidade participante sobre o atendimento educacional da pessoa com surdez, tanto através das aulas teóricas da professora coordenadora e palestras com diferentes profissionais, como das oficinas de libras.
Além disso, o curso tem contribuído para uma melhor compreensão da modalidade de ensino de Educação Especial, fazendo perceber a importância de um novo olhar profissional e educacional a esta modalidade de ensino.

5 Considerações Finais
Concluindo este relato, tem como objetivo de enfatizar a importância do coordenador do curso de Atendimento Educacional Comum e Especializado ao aluno com Surdez para o seu bom andamento. Sob a coordenação e orientação da Professora Cristina Araújo Ramos Reis, pude perceber que esta é uma pessoa muito especial, pois, apesar do pouco tempo trabalhando juntos, tenho aprendido muito com ela. A sua capacidade de comunicação, organização, planejamento é digna de muito respeito e reconhecimento. Assim, ser monitor deste curso, sob a coordenação e orientação do Profª. Cristina Reis para mim tem representado um grande aprendizado teórico, mas principalmente um exercício de respeito ao diferente e de simplicidade.

Referências

DAMÁZIO, Mirlene F. M. Atendimento Educacional Especializado: Pessoa com surdez. Curitiba: Cromos, 2007.
FERNANDES, E. Problemas Lingüísticos e Cognitivos do Surdo. Agir. 1990
SANCHES, C. La educacion de los sordos en um modelo bilíngüe. Lakonia. Venezuela. 1991.
Declaração dos Direitos das Pessoas com Deficiências, 1975. Compartilhar

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